Odin e as semelhanças com Papai Noel

Odin tem semelhanças com a figura conhecida como Papai Noel. O objetivo deste post é elencar essas semelhanças, e não negar as informações históricas a respeito do bispo Nicolau de Mira (a quem costuma-se atribuir a origem da figura do Papai Noel). Mas antes de continuarmos, primeiro é importante deixar de lado a famosa imagem comercial do Papai Noel.

Uma maneira fácil de começar a deixar de lado essa imagem é saber que, antes de 1823 (quando foi escrito o poema “Uma visita de São Nicolau”), a figura do Noel era descrita montada a cavalo e não em um trenó puxado por renas. A representação do cavalo é muito significativa, conforme ficará evidente mais à frente neste texto.

Vamos continuar por partes. O Natal é uma festividade que possui origem em festividades pagãs de diferentes partes do mundo. Entre essas festividades que deram origem ao Natal está o Yule (o Solstício de Inverno, comemorado no hemisfério norte em 20/12 ou 21/12, a depender do ano).

Existem características do Yule que estão presentes no atual Natal, a exemplo do presunto de natal (associado ao Javali de Yule, que por sua vez tem ligação com o javali Gullinbursti e o Deus da fertilidade, Freyr), das cantatas (que têm origem no hábito do “wassail”, que eram bençãos de boa saúde proferidas para convidados e para a colheita) e das semelhanças de Odin com o Papai Noel.

Avançando para falar mais sobre as semelhanças entre Odin e Noel, fica claro que Odin está muito presente nas festividades pagãs de dezembro, pois a palavra “Yule” tem origem em “Jól” (palavra do Nórdico Antigo) e a palavra “Jólnir” (que é um dos muitos nomes de Odin) significa “Mestre do Yule” ou “o pai Yule”.

Lembram que falamos sobre o Noel ser representado montado a cavalo? Pois bem, na mitologia nórdica Sleipnir é o cavalo de Odin. Sleipnir é descrito possuindo oito patas e tendo a capacidade de viajar por muitos mundos da cosmologia nórdica. E no poema Sigrdrífumál (também conhecido como Brynhildarljóð), a valquíria Sigrdrífa diz ao herói Sigurd que runas devem ser entalhadas “nos dentes de Sleipnir e nas correias do trenó”.

Odin também é um doador de presentes. No poema Hyndluljóð ou O Canto de Hyndla (The Lay of Hyndla), a Deusa Freya assim fala de Odin:

“2. O favor do Odin | procuramos encontrar,

A seus seguidores ouro | ele dá com prazer;

Ao Hermoth ele deu | capacete e cota de malha,

E a Sigmund ele deu | uma espada como presente.

3. Triunfo para uns, | e tesouro para outros,

Para muitos sabedoria | e habilidade nas palavras,

Ventos justos para o marinheiro, | para o cantor sua arte,

E um coração másculo | para muitos heróis.”

https://www.voluspa.org/hyndluljod1-5.htm

Odin como um doador de presentes é um aspecto que também é muito presente durante as 12 noites de comemoração do Yule. Nesse período (celebrado a partir de 20/12 ou 21/12, a depender do ano), ocorre a Caçada Selvagem liderada por Odin. Esse é um momento em que pagãs e pagãos podem oferecer presentes em sinal de amizade, para também receberem bençãos de Odin.

Outra semelhança é a proximidade geográfica entre o Polo Norte (lar de Noel) e a Escandinávia (uma das regiões em que pagãs e pagãos cultuaram Odin no passado e onde continua-se a homenagear atualmente).

Apesar de não haver unanimidade quanto à possibilidade do Noel ter realmente sido originado em Odin, essas semelhanças trazidas no texto são reais e foram checadas nas fontes primárias. As referências estão mais abaixo.

Na comunidade acadêmica, há quem reconheça essas semelhanças, como a folclorista Margaret Baker.

“A aparição do Papai Noel ou Pai Natal, cujo dia é 25 de dezembro, deve muito a Odin, o velho Giftbringer [“trazedor de presentes”] de capuz azul, manto e barbas brancas do norte, que cavalgava no céu no meio do inverno em seu corcel de oito pés Sleipnir, visitando seu povo com presentes. Odin, transformado em Pai Natal, então Papai Noel, prosperou com São Nicolau e o Christchild, tornou-se um protagonista no palco do Natal”.

Margaret Baker em ‘Discovering Christmas Customs and Folklore: A Guide to Seasonal Rites Throughout the World’.

Teria ocorrido então uma influência total dos atributos de Odin no surgimento do Noel?

Independentemente do sentido que se escolha atribuir a esse assunto, é importante conhecer essas informações para formar a própria opinião.

Fontes: http://www.germanicmythology.com/FORNALDARSAGAS/HERVARARKERSHAW.html; http://www.vsnrweb-publications.org.uk/Text%20Series/Agrip.pdf; https://www.voluspa.org/hyndluljod1-5.htm; https://www.gutenberg.org/files/14726/14726-h/14726-h.htm#THE_LAY_OF_HYNDLA ; http://www.germanicmythology.com/works/ThorpeEdda/thorpe16.html ; https://www.gutenberg.org/files/14726/14726-h/14726-h.htm#PREFACE; https://www.theasatrucommunity.org/yule; https://sacred-texts.com/neu/poe/poe25.htm; https://norse-mythology.org/the-wild-hunt/; https://sonsofvikings.com/blogs/history/viking-origins-of-christmas-yule-traditions; http://asatru-vanatru.com/yule-a-sua-melhor-epoca

Religiosidade

A religiosidade dos nórdicos é marcada pela pluralidade, mesmo dentro de um único panteão os ritos podiam variar bastante dentro das tribos (característica que permanece atualmente, obviamente trocando-se as tribos do passado pelos kindreds atuais). Pais e mães comandavam os ritos dentro da família. Já as cerimônias públicas eram tarefa do jarl (“conde”, em tradução literal). Importante chamar atenção para a relação direta entre esses povos e as divindades. Mesmo a figura dos sacerdotes, dentro do paganismo nórdico, não possui o mesmo papel das religiões abraâmicas. Isso significa que as divindades podem comunicar-se diretamente com as pagãs e pagãos, o que pode ser buscado.

Vikings

Vikings, antes do início da chamada “era cristã”, têm origem nos pagãos germânicos que viveram na região onde hoje é a Alemanha, Inglaterra anglo-saxã, Noruega, Dinamarca, Suécia, Frísia (condado ao norte da Holanda), e Islândia (posteriormente). A figura dos Vikings refere-se aos navegantes invasores que também eram conquistadores, exploradores, comerciantes e colonos, tendo vivido no território onde hoje é a Noruega, Dinamarca, Suécia e Islândia. A chamada Era Viking compreende o período de tempo entre, aproximadamente, 793 da Era Comum (EC) e 1066 EC.