
Deus Freyr, o “odiado por ninguém” e “principal dos Deuses”
Freyr é amado e possui muitos atributos. A antiga Edda Poética menciona Freyr como “odiado por ninguém” e “o principal dos Deuses”, pois quem possui o apreço de Freyr será fértil e prosperará. É o Deus da colheita, chuvas e fertilidade. Ao mesmo tempo em que está ligado à paz (característica essa presente no mito em que entrega sua espada para casar com Gerd), Freyr também possui atributos ligados às batalhas.

No poema Lokasenna, o Deus Tyr fala sobre Freyr (estrofe 37):
“Freyr é o melhor de todos
os corajosos cavaleiros em Asgarðr.
Ele não traz tristeza para as donzelas ou para as esposas dos homens,
e liberta todos de suas correntes.”

O Deus Freyr reside em Alfheim junto aos elfos e essa proximidade faz imaginar que ele seja o governante dos elfos, embora essa função não esteja clara nos textos antigos.
Freyr é filho do Deus Njord, irmão de Freya e possivelmente filho da Deusa germânica Nerthus, que é irmã de Njord. Essa relação de amantes entre os Vanir também ocorre entre Freyr e Freya, de acordo com a Edda Poética.
Quando a guerra entre os Aesir e os Vanir havia cansado os dois lados, os Deuses decidiram buscar a paz. Para isso, cada tribo de Divindades enviou alguns de seus membros para morar com a outra tribo, sendo essa uma tradição para garantir a paz. Njord, Freyr e Freya foram residir com os Aesir, enquanto Hoenir e Mimir passaram a estar entre os Vanir.

Freyr possui três itens formidáveis: uma espada mágica que pode desferir golpes por si própria; o javali dourado Gullinbursti, que brilha a ponto de transformar a noite em dia aonde quer que viaje e também pode correr melhor do que qualquer cavalo através da água ou do ar; e o barco Skidbladnir, que pode ser guardado no bolso e sempre tem um vento favorável.

“Frey e Gullinbursti rumam à batalha”. Crédito – http://www.howarddavidjohnson.com/nordicmyths.htm
Freyr recebeu o javali Gullinbursti e o o barco Skidbladnir como presentes ao término da viagem de Loki para Nidavellir, quando o Deus / Jotun trickster (“trapaceiro”) recorreu aos anões para que esses criassem para a Deusa Sif um novo cabelo (que o próprio Loki havia cortado). Dessa maneira, o barco Skidbladnir foi fabricado pelo grupo de anões chamado de “Filhos de Ivaldi”, enquanto o javali Gullinbursti foi criado pelos anões irmãos Brokkr (“metalúrgico”) e Sindri (“pulverizador de faísca”).

Importante notar que o nome do barco Skidbladnir significa “Montado a partir de pedaços de madeira fina”. Uma interpretação para esse nome sugere que o Skidbladnir é um arquétipo mitológico de navios construídos para fins rituais específicos, portanto não feitos para serem navegáveis.

O amor e apreço pelo Deus nórdico Freyr foi tão grande no mundo antigo que as sacerdotisas e sacerdotes de Freyr viajavam pela Islândia em uma carruagem que continha uma estátua do Deus da fertilidade (segundo consta no manuscrito islandês “Flateyjarbók”).

Esse fato traz muita importância às homenagens. Prova disso é o relato do historiador romano Tacitus (no livro “Germania 40. In The Agricola and Germania”) sobre a cultura das tribos germânicas e as homenagens oferecidas a Nerthus, Deusa germânica e provável mãe de Freyr.

Sempre que uma carruagem (que fazia parte das homenagens a Nerthus) chegava em alguma vila ou cidade, as pessoas literalmente baixavam as armas e “todo pedaço de ferro” para desfrutar de um período de festas alegres, reflexo de sua gentil presença divina.

A atuação de Freyr ao prover saúde e abundância costuma ser simbolizada por 2 aspectos: seu javali e por aparecer representado com um enorme falo ereto.

Freyrfaxi
Durante a roda nórdica, o Freyrfaxi é o momento de agradecer ao Deus Freyr pela colheita e generosidade da terra.

O Freyrfaxi traz ainda a união de Freyr com a giganta Gerd / Gerda.

O mito conta que Freyr abriu mão de sua espada mágica para poder casar com a Jotun (Giganta) Gerd. Essa união simboliza a fertilidade da terra.

Crédito – https://www.flickr.com/photos/jesseca_trainham/12793117114/in/photostream/
Desse momento em diante, a Edda em Prosa retrata Freyr segurando um chifre de veado no lugar da espada. A Edda em Prosa também diz que Freyr possui uma carruagem puxada por javalis.

Riquezas, colheitas e paz o amado Deus Freyr traz. Isso está presente, inclusive, nas menções que recebe entre os povos germânicos e em outras regiões, a saber: fertilidade, bem-estar e prosperidade.

Ragnarok
Conta-se que Freyr enfrenta o gigante de fogo Surtr durante o Ragnarok e que cada um é responsável pela morte do outro.

Influência no calendário
Freyr e sua influência também estão presentes no calendário. Exemplo disso é o natal, que tem origens pagãs de diferentes partes do mundo.

O conhecido “presunto de natal” tem como origem o Javali de Yule, que por sua vez tem ligação com Freyr e o javali Gullinbursti. Na véspera de Yule, a tradição era as pessoas colocarem as mãos nas cerdas de um javali, dedicado a Freyr.
O ato de comer o javali era visto como a absorção de parte do poder do Deus (gesto que o cristianismo também pratica nas missas, com as hóstias e o vinho).

Significado do nome e linhagens
Seu nome significa “Senhor”, “Lorde”, portanto é um título. Seu nome proto-germânico original é “Ingwaz”, cujo significado e etimologia estão, atualmente, desconhecidos. Entre os anglo-saxões, o Deus foi chamado por “Ing”. Os escandinavos o chamavam por “Yngvi ( Yngvi-Freyr e Ingunar-Freyr são outros nomes pelos quais o chamavam). No livro “Germania 40. In The Agricola and Germania” e na “Saga dos Ynglingos” consta que Freyr possui forte ligação com carruagens e navios, sendo um Deus fundador de muitas tribos, grupos de tribos e linhagens reais (a exemplo da dinastia Yngling da Suécia).

Venerar Freyr significa honrar seu legado e agradecer pela fertilidade dos campos e da vida em si, pois a humanidade continua dependendo daquilo que a natureza oferece.
Gratidão por tudo, Senhor Freyr.

Imagem de abertura: Deus Freyr. Crédito – https://br.pinterest.com/pin/423971752417894361/
Religiosidade
A religiosidade dos nórdicos é marcada pela pluralidade, mesmo dentro de um único panteão os ritos podiam variar bastante dentro das tribos (característica que permanece atualmente, obviamente trocando-se as tribos do passado pelos kindreds atuais). Pais e mães comandavam os ritos dentro da família. Já as cerimônias públicas eram tarefa do jarl (“conde”, em tradução literal). Importante chamar atenção para a relação direta entre esses povos e as divindades. Mesmo a figura dos sacerdotes, dentro do paganismo nórdico, não possui o mesmo papel das religiões abraâmicas. Isso significa que as divindades podem comunicar-se diretamente com as pagãs e pagãos, o que pode ser buscado.
Vikings
Vikings, antes do início da chamada “era cristã”, têm origem nos pagãos germânicos que viveram na região onde hoje é a Alemanha, Inglaterra anglo-saxã, Noruega, Dinamarca, Suécia, Frísia (condado ao norte da Holanda), e Islândia (posteriormente). A figura dos Vikings refere-se aos navegantes invasores que também eram conquistadores, exploradores, comerciantes e colonos, tendo vivido no território onde hoje é a Noruega, Dinamarca, Suécia e Islândia. A chamada Era Viking compreende o período de tempo entre, aproximadamente, 793 da Era Comum (EC) e 1066 EC.
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