Gullveig: semelhanças com Freya e a guerra entre Aesir e Vanir
Gullveig é uma poderosa praticante de magia Seidr, sua história está repleta de detalhes intrigantes sobre seu poder, sua origem e a guerra envolvendo os Aesir e Vanir. Apesar de ter restado poucas menções a ela nos textos antigos (2 estrofes da Völuspá), o que chegou até nós é fascinante e instiga uma busca pessoal para (re)descobrir o que está escondido.
No Völuspá (Profecia da Vidente), um poema da Edda Poética, uma volva conta a Odin a origem da criação e também o fim de tudo. Gullveig é mencionada desta forma segundo a tradução para o inglês feita pelo acadêmico Andrew Orchard, em 1997:
“21 – Então [a volva que conta o poema] lembrou-se da primeira grande guerra no mundo,
quando apunhalaram em Gullveig com lanças,
e queimaram-na no salão de Odin;
queimaram por três vezes a mulher três vezes nascida,
muitas vezes, não uma única vez, mas mesmo assim ela viveu.”
“22 – Chamaram-na de ‘heidr’, quando ela chegou à casa,
uma bruxa profetisa, que conhecia a habilidade das varinhas,
ela praticou seidr onde podia, praticou seidr em transe;
era sempre um deleite para as mulheres perversas.”
Pelas estrofes acima é possível interpretar que Gullveig conseguiu renascer 3 vezes ao usar magia Seidr. Um fato que reforça essa interpretação é que a mesma capacidade de renascer através da Seidr está presente no texto “Hrólfs saga kraka” (a Saga do Rei Hrolf Kraki), quando a meia-elfo Skuld usa essa magia para ressuscitar guerreiros mortos e ganhar a batalha contra o Rei Hrolf.
Semelhanças com Freya
A Deusa Freya é outra famosa praticante de Seidr, tendo inclusive ensinado a Odin essa magia. Tanto Freya quanto Gullveig possuem relação com o ouro. O nome “Gullveig” é uma palavra composta formada pelas palavras “gull” (“gold” [ouro]) e “veig” (“bebida alcoólica”, “intoxicação” ou “poder”, “força”), o que leva a uma interpretação com significado próximo de “loucura causada pelo poderoso metal”.
Além disso, “Heidr”, o outro nome de Gullveig, guarda mais similaridades com o ouro. Como substantivo, “Heidr” significa “fama”; E como adjetivo, significa “brilhante”, “luz”, “claro”. Ou seja, aqui o ouro representa prestígio para Gullveig. Freya também é famosa pelo prestígio e riqueza, possuindo inclusive o magnífico colar Brisingamen.
A própria presença de Gullveig no salão de Odin, tendo sido perfurada por lanças, é um indicativo de que ela estaria fora do seu lar, tendo vindo de outro lugar (Vanaheim?). Todos esses fatos podem levar a crer que a “primeira grande guerra do mundo”, na estrofe 21 do Völuspá, é uma menção à guerra entre os Aesir e Vanir.
Por que Gullveig foi perfurada e queimada?
Por meio dos textos antigos, há 2 possíveis respostas.
O Poema Rúnico Islandês traz a visão de mundo (ou pelo menos parte dela) do povo nórdico com relação ao ouro.
“Riqueza
fonte de discórdia entre parentes
e fogo do mar
e caminho da serpente.”
Significado parecido é registrado no Poema Rúnico Norueguês.
“A riqueza é uma fonte de discórdia entre os parentes;
o lobo vive na floresta.”
Por fim, o final da estrofe 22 do Völuspá mostra como a magia Seidr poderia ser vista pelas pessoas que não a praticavam:
“ela [Heidr / Gullveig] praticou seidr onde podia, praticou seidr em transe;
era sempre um deleite para as mulheres perversas.”
Em outras palavras, Gullveig / Heidr é tão poderosa que sua prática com magia Seidr poderia ser vista como perigosa.
Dessa maneira, a discórdia causada pelo ouro e a visão de que quem praticava a Seidr seria “perversa” ou “perigosa” seriam duas possíveis respostas – baseando-se nos textos antigos – para Gullveig / Heidr ter sido atacada.
Isso poderia ter levado à guerra entre os Aesir e Vanir? Possivelmente. Porém o mais importante, ao meu ver, é que as Divindades triunfaram (como sempre triunfam) sobre o ocorrido: Odin aprendeu Seidr por meio de Freya (Gullveig?), os Aesir e Vanir firmaram uma paz que sobreviveu até mesmo sobre a morte de Mimir (causada pelos Vanir em um mal-entendido) e nós aqui estamos, aprendendo sobre seu legado e tentando pôr em prática o que é possível nestes tempos.
Fontes: https://norse-mythology.org/gullveig/ ; https://en.wikipedia.org/wiki/Gullveig ; https://www.ragweedforge.com/rpie.html ; https://www.ragweedforge.com/RunNRPe.html
Imagem de abertura: Gullveig. Fonte: https://www.deviantart.com/natasailincic/art/Gullveig-718921296
Religiosidade
A religiosidade dos nórdicos é marcada pela pluralidade, mesmo dentro de um único panteão os ritos podiam variar bastante dentro das tribos (característica que permanece atualmente, obviamente trocando-se as tribos do passado pelos kindreds atuais). Pais e mães comandavam os ritos dentro da família. Já as cerimônias públicas eram tarefa do jarl (“conde”, em tradução literal). Importante chamar atenção para a relação direta entre esses povos e as divindades. Mesmo a figura dos sacerdotes, dentro do paganismo nórdico, não possui o mesmo papel das religiões abraâmicas. Isso significa que as divindades podem comunicar-se diretamente com as pagãs e pagãos, o que pode ser buscado.
Vikings
Vikings, antes do início da chamada “era cristã”, têm origem nos pagãos germânicos que viveram na região onde hoje é a Alemanha, Inglaterra anglo-saxã, Noruega, Dinamarca, Suécia, Frísia (condado ao norte da Holanda), e Islândia (posteriormente). A figura dos Vikings refere-se aos navegantes invasores que também eram conquistadores, exploradores, comerciantes e colonos, tendo vivido no território onde hoje é a Noruega, Dinamarca, Suécia e Islândia. A chamada Era Viking compreende o período de tempo entre, aproximadamente, 793 da Era Comum (EC) e 1066 EC.
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Olá, eu adorei a postagem sobre ela, mas é que eu li em um lugar que ela havia sido morta após ser perfurada três vezes pela Gungnir, isso é verdade?