Urd, Verdandi, Skuld e as demais Nornas
As Nornas transmitem respeito e poder. São incrivelmente poderosas por decidirem o destino não só de homens e mulheres mas também de Deuses e Deusas. E quando se fala em Nornas, a primeira lembrança que pode surgir é a referência a Urd, Verdandi e Skuld. Felizmente, há mais Nornas citadas nos textos nórdicos antigos. Mas antes de explicar as demais Nornas, é importante esclarecer que Urd, Verdandi e Skuld não são Aesir ou Vanir. Algumas interpretações sugerem que elas formam uma categoria única e exclusiva. E há uma outra interpretação, baseada nos poemas Vafþrúðnismál e Völuspá, sugerindo que Urd, Verdandi e Skuld são de Jotunheim.
A estrofe 49 do Vafþrúðnismál conta:
“Sobre as moradias das pessoas três descem das donzelas de Mögthrasir, a única Hamingiur que está no mundo, embora com Jötuns nutrida.”
Mögthrasir (que significa “aquele que está lutando por filhos”) é o nome anglicizado do jotun (gigante) Vafthrudnir. No poema, ele e Odin (disfarçado) fazem uma disputa de sabedoria. É provável que “donzelas de Mögthrasir” seja uma referência às Nornas por causa de 2 motivos:
1 – Sendo elas poderosas, é natural que o pai delas também o seja. No início do poema, a Deusa Frigg aconselha Odin a não ir ao salão do jotun por causa do poder de Mögthrasir / Vafthrudnir;
2 – “Hamingiur” é uma referência clara à “Hamingja”, que significa “sorte” na visão nórdica antiga. A “sorte” dos nórdicos tem a ver com a linhagem, força, personalidade, inteligência (ou habilidade com armas). A sorte origina o sucesso, riqueza e poder de uma família. Qual força, então, teria a capacidade para influenciar o mundo? Definitivamente, um poder como o das Nornas.
Outra referência que sugere a origem jotun de Urd, Verdandi e Skuld está na estrofe 8 do Völuspá (Profecia da Vidente).
"Em suas moradias em paz eles jogavam nas mesas, ouro não faltava os deuses então sabiam, - até lá surgirem três donzelas gigantes, muito poderosas, de Jotunheim."
Para além da origem delas, fato reconhecidamente aceito são seus nomes e funções:
“Urd / Urðr” significa “o que ocorreu” e seu nome também é uma palavra em nórdico antigo para “destino”;
“Verdandi / Verðandi” significa “o que ocorre agora”;
“Skuld / Skulð” significa “o que deve acontecer”.
Portanto, cada uma relacionada a um período de tempo como nós estamos acostumados aqui em Midgard.
Elas costumam ser representadas como fiandeiras do wyrd (destino), ou entalhando runas em madeira, e residem em um salão junto ao “Poço do Destino” (Urðarbrunnr), que fica sob a Yggdrasil.
Deste poço, elas também retiram água para curar as raízes da Yggdrasil que são corroídas pelo dragão / serpente Nidhogg.
O poema Gylfaginning assim conta: “É ainda dito que essas Nornas que moram junto ao Poço de Urdr pegam água do poço todos os dias, e com aquele barro que está ao redor do poço, e a regam sobre o Carvalho [é dito que o Carvalho é a espécie da Yggdrasil], a fim de que seus membros não murchem nem apodreçam; pois aquela água é tão sagrada que todas as coisas que vêm para o poço tornam-se tão brancas quanto a membrana que fica dentro da casca do ovo”.
Nornas dos deuses, dos elfos e dos anões
A existência de outras Nornas além de Urd, Verdandi e Skuld está atestada nos textos antigos. Em um dos poemas, tal existência é contada por ninguém menos que Odin. No poema Gylfaginning, Odin está sob a forma de 3 homens que citam textos antigos e ensinam cosmologia nórdica ao rei da Suécia, Gylfi (que chega a Valhalla chamando a si mesmo de Gangleri).
“mas há muitas nornas: aquelas que vêm a cada criança que nasce, para designar sua vida; essas são da raça dos deuses, mas o segundo [tipo de Nornas] é do povo élfico, e o terceiro é da família dos anões, como é dito aqui:
‘Mais divididas no nascimento | Eu digo que as Nornas são;
Eles não reivindicam nenhum parente comum:
Algumas são de Æsir-kin, | algumas são do tipo elfo,
Algumas são filhas de Dvalinn.’”
Ou seja, é inegável que essas Nornas possuem grande importância para pessoas e seres mágicos. A mesma informação quanto à natureza diversa das Nornas está no poema Fáfnismál, no qual o dragão Fafnir diz para o herói Sigurd:
“De muitos nascimentos
as Nornas devem ser,
Em nenhuma única raça elas estavam;
Algumas aos deuses, outras
para os elfos são parentes,
E algumas filhas de Dvalin.”
Com tamanho poder, as Nornas são retratadas de maneira diversa nos textos antigos. Alguns personagens queixam-se dos destinos sofríveis que enfrentam. Por outro lado, o poder das Nornas pode ser usado sob forma de encanto. Assim faz a valquíria Brynhild / Brunhilda no poema Sigrdrífumál.
“Em vidro e ouro, e com belos encantos, No vinho e na cerveja, e em lugares bem amados, Na ponta de Gungnir, e no peito de Grani, Nas unhas das Nornas, e no bico da coruja noturna.”
nota pessoal: essa visão de destino pré-determinado presente nos textos antigos não precisa ser aceita como verdade imutável e/ou impossível de ser compreendida em nossas vidas. Que fique claro, os textos antigos são muito importantes, pois fornecem informação. Mas o caminho que uma pessoa fará em vida pode ser compartilhado com a(s) Divindade(s) mais próxima. Descobertas quanto ao passado podem ser realizadas em conjunto com essa(s) Divindade(s) ou com as Nornas. Desejos que vêm do coração podem ser ditos. Entender melhor a si mesmo / mesma é um verdadeiro presente nestes tempos. Em minhas experiências pessoais, vi que as Divindades querem que estejamos bem, que estejamos plenos, altivos, bem conosco. Que tenhamos orgulho de nossa origem e legado. Divindades e Nornas podem ter muito a revelar e a orientar na jornada de cada pagã e de cada pagão.
Imagem de abertura: Nornas Urd, Verdandi e Skuld (representação). Fonte: https://www.deviantart.com/lucreciamortishia/art/The-three-Norns-479299560
Religiosidade
A religiosidade dos nórdicos é marcada pela pluralidade, mesmo dentro de um único panteão os ritos podiam variar bastante dentro das tribos (característica que permanece atualmente, obviamente trocando-se as tribos do passado pelos kindreds atuais). Pais e mães comandavam os ritos dentro da família. Já as cerimônias públicas eram tarefa do jarl (“conde”, em tradução literal). Importante chamar atenção para a relação direta entre esses povos e as divindades. Mesmo a figura dos sacerdotes, dentro do paganismo nórdico, não possui o mesmo papel das religiões abraâmicas. Isso significa que as divindades podem comunicar-se diretamente com as pagãs e pagãos, o que pode ser buscado.
Vikings
Vikings, antes do início da chamada “era cristã”, têm origem nos pagãos germânicos que viveram na região onde hoje é a Alemanha, Inglaterra anglo-saxã, Noruega, Dinamarca, Suécia, Frísia (condado ao norte da Holanda), e Islândia (posteriormente). A figura dos Vikings refere-se aos navegantes invasores que também eram conquistadores, exploradores, comerciantes e colonos, tendo vivido no território onde hoje é a Noruega, Dinamarca, Suécia e Islândia. A chamada Era Viking compreende o período de tempo entre, aproximadamente, 793 da Era Comum (EC) e 1066 EC.
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