Deus Freyr, o “odiado por ninguém” e “principal dos Deuses”

Deus Freyr, o “odiado por ninguém” e “principal dos Deuses”

julho 20, 2020 0 Por Pagan

Freyr é amado e possui muitos atributos. A antiga Edda Poética menciona Freyr como “odiado por ninguém” e “o principal dos Deuses”, pois quem possui o apreço de Freyr será fértil e prosperará. É o Deus da colheita, chuvas e fertilidade. Ao mesmo tempo em que está ligado à paz (característica essa presente no mito em que entrega sua espada para casar com Gerd), Freyr também possui atributos ligados às batalhas.

Deys Freyr. Crédito - https://www.deviantart.com/brianjones90/art/Freyr-139528745
Deys Freyr. Crédito – https://www.deviantart.com/brianjones90/art/Freyr-139528745

No poema Lokasenna, o Deus Tyr fala sobre Freyr (estrofe 37):

“Freyr é o melhor de todos
os corajosos cavaleiros em Asgarðr.
Ele não traz tristeza para as donzelas ou para as esposas dos homens,
e liberta todos de suas correntes.”

Deus Freyr. Autoria desconhecida.
Deus Frey (nome anglicizado de Freyr). Autoria desconhecida.

O Deus Freyr reside em Alfheim junto aos elfos e essa proximidade faz imaginar que ele seja o governante dos elfos, embora essa função não esteja clara nos textos antigos.

Freyr é filho do Deus Njord, irmão de Freya e possivelmente filho da Deusa germânica Nerthus, que é irmã de Njord. Essa relação de amantes entre os Vanir também ocorre entre Freyr e Freya, de acordo com a Edda Poética.

Quando a guerra entre os Aesir e os Vanir havia cansado os dois lados, os Deuses decidiram buscar a paz. Para isso, cada tribo de Divindades enviou alguns de seus membros para morar com a outra tribo, sendo essa uma tradição para garantir a paz. Njord, Freyr e Freya foram residir com os Aesir, enquanto Hoenir e Mimir passaram a estar entre os Vanir.

Deus Freyr e Deusa Freya. Autoria desconhecida.

Freyr possui três itens formidáveis: uma espada mágica que pode desferir golpes por si própria; o javali dourado Gullinbursti, que brilha a ponto de transformar a noite em dia aonde quer que viaje e também pode correr melhor do que qualquer cavalo através da água ou do ar; e o barco Skidbladnir, que pode ser guardado no bolso e sempre tem um vento favorável.


 “Frey e Gullinbursti rumam à batalha”. Crédito – http://www.howarddavidjohnson.com/nordicmyths.htm

Freyr recebeu o javali Gullinbursti e o o barco Skidbladnir como presentes ao término da viagem de Loki para Nidavellir, quando o Deus / Jotun trickster (“trapaceiro”) recorreu aos anões para que esses criassem para a Deusa Sif um novo cabelo (que o próprio Loki havia cortado). Dessa maneira, o barco Skidbladnir foi fabricado pelo grupo de anões chamado de “Filhos de Ivaldi”, enquanto o javali Gullinbursti foi criado pelos anões irmãos Brokkr (“metalúrgico”) e Sindri (“pulverizador de faísca”).

Deus Freyr. Crédito - https://www.deviantart.com/righon/art/Freyr-253887333
Deus Freyr. Crédito – https://www.deviantart.com/righon/art/Freyr-253887333

Importante notar que o nome do barco Skidbladnir significa “Montado a partir de pedaços de madeira fina”. Uma interpretação para esse nome sugere que o Skidbladnir é um arquétipo mitológico de navios construídos para fins rituais específicos, portanto não feitos para serem navegáveis.

Deus Freyr montado no javali Gullinbursti e Deusa Freya em sua carruagem puxada por gatos

O amor e apreço pelo Deus nórdico Freyr foi tão grande no mundo antigo que as sacerdotisas e sacerdotes de Freyr viajavam pela Islândia em uma carruagem que continha uma estátua do Deus da fertilidade (segundo consta no manuscrito islandês “Flateyjarbók”).

Deus Freyr. Crédito - http://www.howarddavidjohnson.com/
Deus Freyr. Crédito – http://www.howarddavidjohnson.com/

Esse fato traz muita importância às homenagens. Prova disso é o relato do historiador romano Tacitus (no livro “Germania 40. In The Agricola and Germania”) sobre a cultura das tribos germânicas e as homenagens oferecidas a Nerthus, Deusa germânica e provável mãe de Freyr.

Deusa Nerthus. Crédito – Nerthus (1905) por Emil Doepler.

Sempre que uma carruagem (que fazia parte das homenagens a Nerthus) chegava em alguma vila ou cidade, as pessoas literalmente baixavam as armas e “todo pedaço de ferro” para desfrutar de um período de festas alegres, reflexo de sua gentil presença divina.

Deus Freyr e Deusa Freya. Autoria desconhecida.

A atuação de Freyr ao prover saúde e abundância costuma ser simbolizada por 2 aspectos: seu javali e por aparecer representado com um enorme falo ereto.

Deus Freyr. Crédito - http://ydalir.ca/norsegods/freyr/
Deus Freyr. Crédito – http://ydalir.ca/norsegods/freyr/

Freyrfaxi

Durante a roda nórdica, o Freyrfaxi é o momento de agradecer ao Deus Freyr pela colheita e generosidade da terra.

"Freyr sees Gerd" by Edgar D'Aulaire (1968)
“Freyr sees Gerd” by Edgar D’Aulaire (1968)

O Freyrfaxi traz ainda a união de Freyr com a giganta Gerd / Gerda.

Jotun Gerd. Crédito – https://www.deviantart.com/natasailincic/art/Gerd-608926151

O mito conta que Freyr abriu mão de sua espada mágica para poder casar com a Jotun (Giganta) Gerd. Essa união simboliza a fertilidade da terra.

Freyr e Gerd representados em um tríptico (obra pintada ou esculpida sobre três suportes articulados)
Crédito – https://www.flickr.com/photos/jesseca_trainham/12793117114/in/photostream/

Desse momento em diante, a Edda em Prosa retrata Freyr segurando um chifre de veado no lugar da espada. A Edda em Prosa também diz que Freyr possui uma carruagem puxada por javalis.

Freyr e o javali Gullinbursti. Crédito - https://www.deviantart.com/pernastudios/art/Freyr-Base-Card-Art-Richard-Pace-440501504
Freyr e o javali Gullinbursti. Crédito – https://www.deviantart.com/pernastudios/art/Freyr-Base-Card-Art-Richard-Pace-440501504

Riquezas, colheitas e paz o amado Deus Freyr traz. Isso está presente, inclusive, nas menções que recebe entre os povos germânicos e em outras regiões, a saber: fertilidade, bem-estar e prosperidade.

"Freyr_and_Gerd"_by_mariela_natalia
“Freyr_and_Gerd”_by_mariela_natalia

Ragnarok

Conta-se que Freyr enfrenta o gigante de fogo Surtr durante o Ragnarok e que cada um é responsável pela morte do outro.

Deus Freyr e Jotun (Gigante) Surtr. Crédito - https://www.deviantart.com/samflegal/art/Freyr-s-Last-Stand-391445965
Deus Freyr e Jotun (Gigante) Surtr. Crédito – https://www.deviantart.com/samflegal/art/Freyr-s-Last-Stand-391445965

Influência no calendário

Freyr e sua influência também estão presentes no calendário. Exemplo disso é o natal, que tem origens pagãs de diferentes partes do mundo.

Freyr e o javali Gullinbursti

O conhecido “presunto de natal” tem como origem o Javali de Yule, que por sua vez tem ligação com Freyr e o javali Gullinbursti. Na véspera de Yule, a tradição era as pessoas colocarem as mãos nas cerdas de um javali, dedicado a Freyr.

O ato de comer o javali era visto como a absorção de parte do poder do Deus (gesto que o cristianismo também pratica nas missas, com as hóstias e o vinho).

Freyr e o javali Gullinbursti

Significado do nome e linhagens

Seu nome significa “Senhor”, “Lorde”, portanto é um título. Seu nome proto-germânico original é “Ingwaz”, cujo significado e etimologia estão, atualmente, desconhecidos. Entre os anglo-saxões, o Deus foi chamado por “Ing”. Os escandinavos o chamavam por “Yngvi ( Yngvi-Freyr e Ingunar-Freyr são outros nomes pelos quais o chamavam). No livro “Germania 40. In The Agricola and Germania” e na “Saga dos Ynglingos” consta que Freyr possui forte ligação com carruagens e navios, sendo um Deus fundador de muitas tribos, grupos de tribos e linhagens reais (a exemplo da dinastia Yngling da Suécia).

Deus Freyr. Crédito - https://www.deviantart.com/natasailincic/art/Frey-500232416
Deus Freyr. Crédito – https://www.deviantart.com/natasailincic/art/Frey-500232416

Venerar Freyr significa honrar seu legado e agradecer pela fertilidade dos campos e da vida em si, pois a humanidade continua dependendo daquilo que a natureza oferece.

Gratidão por tudo, Senhor Freyr.

Freyr by Sarah Bradish (1900)
Deus Freyr. Crédito – autoria de Sarah Bradish (1900)

Imagem de abertura: Deus Freyr. Crédito – https://br.pinterest.com/pin/423971752417894361/

Religiosidade

A religiosidade dos nórdicos é marcada pela pluralidade, mesmo dentro de um único panteão os ritos podiam variar bastante dentro das tribos (característica que permanece atualmente, obviamente trocando-se as tribos do passado pelos kindreds atuais). Pais e mães comandavam os ritos dentro da família. Já as cerimônias públicas eram tarefa do jarl (“conde”, em tradução literal). Importante chamar atenção para a relação direta entre esses povos e as divindades. Mesmo a figura dos sacerdotes, dentro do paganismo nórdico, não possui o mesmo papel das religiões abraâmicas. Isso significa que as divindades podem comunicar-se diretamente com as pagãs e pagãos, o que pode ser buscado.

Vikings

Vikings, antes do início da chamada “era cristã”, têm origem nos pagãos germânicos que viveram na região onde hoje é a Alemanha, Inglaterra anglo-saxã, Noruega, Dinamarca, Suécia, Frísia (condado ao norte da Holanda), e Islândia (posteriormente). A figura dos Vikings refere-se aos navegantes invasores que também eram conquistadores, exploradores, comerciantes e colonos, tendo vivido no território onde hoje é a Noruega, Dinamarca, Suécia e Islândia. A chamada Era Viking compreende o período de tempo entre, aproximadamente, 793 da Era Comum (EC) e 1066 EC.

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